quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Aula 2 - Filosofia dos Valores (Metafísica e Valores; Ser e Valor)

Prezados,

Comecem a leitura para a aula 2 com este texto de Adolfo Sánchez Vászquez (mais acessível). Download aqui: http://www.megaupload.com/?d=WZKRO0DP

Depois, leiam as páginas 37 a 66, por favor deste texto de Johannes Hessen. (Texto integral: http://www.megaupload.com/?d=YQKB7RXT )

Não se preocupem ou se angustiem se nas primeiras leituras não conseguirem acessar claramente as idéias. Vamos digerindo aos poucos. Tenho certeza de que nos será precioso. Comecemos !

Bons estudos.

Sursum Coda !

Queridos alunos,

Muito obrigado pelas manifestações espontâneas de carinho e respeito. A doçura é uma grande virtude moral, simplesmente é comparável ao Amor (André Comte-Sponville) ! E como é doce e, portanto, virtuosa essa gente ! Santo Deus ! O que a turma tem me despertado deixo, de coração (sem querer ser piegas mas também sem termer os afetos) nas palavras de André Comte-Sponville a respeito da doçura (Pequeno Tratado das Grandes Virtudes): 

"A doçura é antes de tudo uma paz, real ou desejada: é o contrário da guerra, da crueldade, da brutalidade, da agressividade, da violência… Paz interior, e a única que é uma virtude. Muitas vezes permeada de angústia e de sofrimento (Schubert), às vezes iluminada de alegria e de gratidão (Etty Hillesum), mas sempre desprovida de ódio, de dureza, de insensibilidade… “Aguerrir-se e endurecer-se são duas coisas diferentes”, notava Etty Hillesum em 1942. A doçura é o que as distingue. É amor em estado de paz, mesmo na guerra, tanto mais forte quanto é aguerrido, e tanto mais doce. A agressividade é uma fraqueza, a cólera é uma fraqueza, a própria violência, quando já não é dominada, é uma fraqueza. E o que pode dominar a violência, a cólera, a agressividade, senão a doçura? A doçura é uma força, por isso é uma virtude: é força em estado de paz, força tranqüila e doce, cheia de paciência e de mansuetude. Veja-se a mãe com seu filho (“a doçura é toda sua fé”). Veja-se Cristo ou Buda, com todos. A doçura é o que mais se parece com o amor, sim, mais ainda que a generosidade, mais ainda que a compaixão. Aliás, ela não se confunde nem com uma nem com outra, embora na maioria das vezes as acompanhe. A compaixão sofre com o sofrimento do outro; a doçura se recusa a produzi-lo ou a aumentá-lo. A generosidade quer fazer bem ao outro; a doçura se recusa a lhe fazer mal. Isso parece ser favorável à generosidade, e talvez o seja. Quantas generosidades importunas, porém, quantas boas ações invasoras, esmagadoras, brutais, que um pouco de doçura teria tornado mais leves e mais amáveis? Sem contar que a doçura torna generoso, pois é fazer mal ao outro não lhe fazer o bem que ele pede ou que poderíamos fazer. E que ela vai além da compaixão, pois a antecipa, pois não precisa dessa dor da dor… Mais negativa talvez do que a afirmativa generosidade, porém mais positiva também do que a compaixão totalmente reativa, a doçura mantém-se entre as duas, sem nada que pese ou ostente, sem nada que force ou que agrida. Eu citava, a propósito da pureza, a notável fórmula de Pavese, em seu Diário: “Você será amado no dia em que puder mostrar sua fraqueza, sem que o outro se sirva dela para afirmar sua força.” Era querer ser amado puramente, dizia eu; era querer também ser amado com doçura, isto é, ser amado. Doçura e pureza andam juntas, quase sempre, pois a violência é o mal primeiro, a obscenidade primeira, pois o mal faz mal, pois o egoísmo, corrompe tudo, é ávido, indelicado, brutal… Que delicadeza, ao contrário, que doçura, que pureza, na carícia da amante! Toda a violência do homem vem morrer aí, toda a brutalidade do homem, toda a obscenidade do homem… “Minha doçura”, diz ele, e é uma palavra de amor, a mais verdadeira talvez, e a mais doce…

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"O sábio, dizia Spinoza, age “com humanidade e doçura” (humaniter et benigne). Essa doçura é a benignidade de Montaigne, que devemos até aos animais, dizia ele, ou mesmo às árvores e às plantas. É a recusa a fazer sofrer, a destruir (quando não é indispensável), a devastar. É respeito, proteção, benevolência. Ainda não é caridade, que ama seu próximo como a si mesma, o que suporia, como já vira Rousseau, que adotássemos esta “máxima sublime”: “Faz ao outro o que queres que ele te faça.” A doçura não visa tão alto assim. É uma espécie de bondade natural ou espontânea, cuja máxima, “bem menos perfeita, porém mais útil talvez do que a precedente”, seria antes a seguinte: “Faz teu bem com o menor mal possível ao outro.” Essa máxima da doçura, menos elevada sem dúvida do que a da caridade, menos exigente, menos exaltante, é também mais acessível, por isso mais útil de fato, e mais necessária. Podemos viver sem caridade, toda a história da humanidade o prova. Mas sem um mínimo de doçura, não.
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"No nível mais modesto, a doçura designa a gentileza das maneiras, a benevolência que atestamos para com outrem. Mas ela pode intervir num contexto muito mais nobre. Manifestando-se em relação aos infortunados, ela torna-se próxima da generosidade ou da bondade; em relação aos culpados, torna-se indulgência e compreensão; em relação aos desconhecidos, os homens em geral, torna-se humanidade e quase caridade. Na vida política, do mesmo modo, ela pode ser tolerância, ou ainda clemência, conforme se trate das relações com cidadãos, com súditos ou com vencidos. Na origem desses diversos valores está, porém, uma mesma disposição a acolher o outro como alguém a quem queremos bem – pelo menos em toda a medida em que podemos fazê-lo sem faltar com algum outro dever. E o fato é que os gregos tiveram o sentimento dessa unidade, pois todos esses valores tão diversos podem, ocasionalmente, ser designados pela palavra praos. [J. de Romilly]
Aristóteles fará dela uma virtude integral, que será o meio-termo, na cólera, entre estes dois defeitos que são a irascibilidade e a frouxidão: o homem doce ocupa o meio entre “o homem colérico, difícil e selvagem” e o homem “servil e tolo”, à força de impassibilidade ou de placidez excessiva. Pois há cóleras justas e necessárias, assim como há guerras e violências justificadas: a doçura é que delas decide e dispõe. Aristóteles sente-se embaraçado, porém, pois vê que sua virtude de praotés “inclina-se perigosamente no sentido da falta”. Se o homem doce é aquele “que está colérico com as coisas com que cumpre estar e contra as pessoas que o merecem, e que ademais o está da maneira que convém, no momento e por tanto tempo quanto o devido”, e não mais freqüentemente, por mais tempo nem em excesso, isso não resolve a questão dos critérios nem dos limites. O doce só é assim chamado porque o é mais que seus concidadãos, e quem sabe então aonde ele vai se deter? Quem vai julgar do objeto, do alcance e da duração legítimas de uma cólera? A doçura pode se opor aqui, e de fato se oporá, à magnanimidade, assim como a altivez grega à humildade judaico-cristã: “Suportar ser achincalhado ou deixar com indiferença insultarem seus amigos é coisa de uma alma vil”, escreve Aristóteles. O mestre de Alexandre, tanto quanto seu aluno, não era dado a oferecer a outra face… Há um extremismo da doçura, que pode ser julgado desprezível ou sublime, de acordo com o ponto de vista adotado, e como que uma tentação evangélica. Covarde? Não, pois a doçura só é doçura se nada deve ao medo. Simplesmente é necessário escolher aqui entre duas lógicas, a da honra e a da caridade, e ninguém ignora para que lado pende a doçura…

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"Felizes os doces? Eles não pedem tanto assim. Mas só eles, não fosse a misericórdia, poderiam sê-lo inocentemente.
Para os demais a doçura vem limitar a violência, tanto quanto possível, ao mínimo necessário ou aceitável." (André Comte-Sponville, Pequeno Tratado das Grandes Virtudes).

Abs. a todos!

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Aula de 16 de Fevereiro

Prezados alunos,

Senti muitas dificuldades por parte de alguns alunos hoje em acompanhar o ritmo de uma aula expositiva teórica, como é o caso da Filosofia. Gostei muito da nossa aula 1. Achei bem positiva e vocês estavam muito concentrados.

Ficamos hoje apenas nos tópicos 1, 4 e 7 e o 6 (ligeiramente) do plano de aula que tracei para o dia 16 (ver post anterior neste blog, tópicos 1 a 9). Preciso ainda cumprir os outros tópicos e ler o restante dos trechos iniciados na aula 1.  Fiz questão de voltar a muitos pontos básicos da matéria também para favorecer os novatos.

Hoje fiquei contente em saber de um aluno que pesquisou na internet, por conta própria, o conceito de metafísica e achou lá a descrição cartesiana da disciplina: A metafísica é a raiz do conhecimento e os galhos (ramificações) sustentados por esta raiz com vigoroso caule são as disciplinas científicas particulares. Éssa imagem é pertinente ao conteúdo da aula 1.
Sugiro que estudem fazendo resumos e fichamentos do material disponibilizado (os slides de power point ajudam bastante), conversem com os colegas que estão dominando bem o conteúdo para trocar ídéias (experiência frutífera para ambos os lados), perguntem-me sempre que necessário sobre qualque tópico da matéria. Nenhuma dúvida pode passar desapercebida. Este blog pode ser um canal para vocês colocarem a mim perguntas anonimamente, caso queiram. Responderei a todas na medida do possível, sem qualquer preocupação em identificar o autor das questões.

O mais importante é que a aula seja significativa para vocês, que faça sentido. Do contrário, não vejo relevância nos nossos estudos.

Definir os termos, procurar em dicionários ou na internet os conceitos (definições filosóficas), nomes de autores, correntes de pensamento etc desconhecidos. Buscar fontes de pesquisas, enfim, buscar este conhecimento que falta. Isso é importante para você desenvolver a habilidade de estudo autônomo, significativo e participante. Esse é o ambiente propriamente acadêmico e a postura própria do 3o grau.

Bons estudos a todos e me perdoem pelas digressões de hoje, pois tive que me esforçar bastante por causa da otite.

Att.,
Frederico Rocha

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Modificações no Planejamento de Curso

Prezados, fiz algumas alterações no Planejamento de Curso visando maior aproveitamento de conteúdo (download aqui: http://www.megaupload.com/?d=07SQ63RH )

Para a aula que vem (16 de Fevereiro)

  1. Rememorar os passos da aula anterior;
  2. Terminar a leitura do trecho da Metafísica de Aristóteles;
  3. Ler o Prefácio do livro Metafísica de uma página de Peter van Inwagen.
  4. Procurar diferenciar as explicações causais das ciências da explicações causais da filosofia e aprofundar esta questão mostrando a oposição entre fragmentação e holismo;
  5. Verificar, conforme posto nos slides, que o central do texto de Savater está na parte 2 (ter cuidado com a parte 3, pois ela não é tão essencial). Ver slides da aula 1.
  6. Por que o conceito de SER é o limite que impede que as perguntas causais progridam ao infinito (ad infinitum), como vimos na aula 1? Voltar a isso.
  7. Tanto a filosofia quanto a ciência estudam o real, mas como cada uma o faz?
  8. Verificar se os objetivos de aula foram realmente cumpridos ou se resta dúvidas após conclusão da aula 1 (A. Diferenciar filosofia de ciência e defini-las minimamente; B. Apontar o papel ou função da filosofia como metafísica no mundo atual; C) Compreender a definição de Filosofia como metafísica);
  9. Fazer um questionário de revisão de toda a exposição anterior.
Você compreendeu as formulações abaixo?
"A filosofia ganha da ciência em extensão, mas perde em precisão;
a ciência ganha da filosofia em precisão e perde em extensão"
"A filosofia sem a ciência é vazia e a ciência sem a filosofia é cega"
 
  Por favor, deixe seu comentário crítico à aula 1 de filosofia e ética nesta seção do blog. Seria muito produtivo saber acerca da repercussão da aula, das impressões de vocês, das dificuldades iniciais, das sugestões, das lacunas da aula, da metodologia, das dúvidas etc.. Para garantir a privacidade, os comentários podem ser postados anonimamente. Tanto os desfavoráveis quanto os favoráveis. Procure argumentar tentando fundamentar seu ponto-de-vista. Isso me faz aprender também. Obrigado! Prof. Frederico

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

MATERIAL DA AULA 1 - Filosofia e ética (psicologia)

Texto 1 - Fernando Savater. As Perguntas da Vida [Introdução]
download aqui: http://www.megaupload.com/?d=RWPNRAZK

Slides da aula 1 - Filosofia x Ciência. Função da Filosofia. Filosofia como Metafísica.
download aqui: http://www.megaupload.com/?d=MGM42NCJ

Texto de apoio (de apenas 01 página) - Trecho de Metafísica de Aristóteles (levar impresso para a próxima aula)
download aqui: http://www.megaupload.com/?d=LHCGWYX5

Trecho de Van Inwagen - Prefácio do livro Metafísica (01 página) (levar impresso para a próxima aula) download aqui: http://www.megaupload.com/?d=WDGGPIW9

Planejamento de curso Filosofia e ética.
(ver post posterior)

Questionário da aula 1 - para reconhecimento do perfil da turma http://www.megaupload.com/?d=E2IGNHJ4

Por favor, deixe seu comentário crítico à aula 1 de filosofia e ética nesta seção do blog. Seria muito produtivo saber acerca da repercussão da aula, das impressões de vocês, das dificuldades iniciais, das sugestões, das lacunas da aula, da metodologia, das dúvidas etc.. Para garantir a privacidade, os comentários podem ser postados anonimamente. Tanto os desfavoráveis quanto os favoráveis. Procure argumentar tentando fundamentar seu ponto-de-vista. Isso me faz aprender também. Obrigado! Prof. Frederico